segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A primazia e as lentilhas


Fiquei pensando estes dias em algo, mentira, pensei agora mesmo. Acompanhe-me e diga se não estou correto. Algumas pessoas, como eu, sentem um imenso prazer em fazer algo com primazia. Comer o primeiro pedaço, passar em primeiro lugar, ler antes de todo mundo, assistir àquela senhora premiere ou mesmo pré-estréia (mas tem que ser a primeira sessão exibida) e por aí vai. Qual é a razão disso? Poderíamos divagar por horas, mas a razão não importa tanto, importa que fato é que a primazia é uma idéia sedutora desde os primórdios da humanidade. Veja a história de Esaú e Jacó. O primeiro, primogênito, era caçador. O último, pastor de ovelhas e um grande espertalhão. Aproveitando-se de um mole de seu irmão caçador, que retornara cansado e com fome de uma caçada mal-sucedida, oferece-lhe em troca da primogenitura um prato de guizado de lentilhas. O mais velho, sem atinar no significado simbólico da sua atitude, aceita de pronto e então delicia-se com o repasto.
Pois bem, operando então desse e de mais um subterfúgio, Jacó aproveita-se da cegueira do pai, ancião de dias, e recebe no lugar do irmão as desejáveis bençãos patriarcais. Quando o irmão chega e tenta desvendar-lhe a farsa, já é tarde, afinal o dito dos antigos não poderia ser desdito, e resta a Esaú uma benção menor e o legado de um segundo lugar. Há quem diga que dos descendentes de Esaú sairam poderosos inimigos daqueles que viriam um dia a ser o povo judeu, a saber, os descendentes de Jacó, que posteriormente passa a chamar-se Israel. Aqui, a busca e a valorização da primazia ilustram o cumprimento de um decreto de Deus, uma vez que já fora declarado aos pais, antes do nascimento que o menor tomaria o lugar do maior, mas e em nossas vidas? Temos dado valor às nossas primazias ou não? Pensemos nisso. Não abramos mão daquilo que Deus nos deu. Se pudermos escolher o melhor, não nos contentemos apenas com o bom.

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